domingo, 30 de setembro de 2007

Dia cinza

Shalom!

Bem pessoal, acho que as coisas aqui por esse blog têm me parecido um bocado cinzentas. As discussões parecem gerar algum calor e pouca luz - e isso tem sido uma constante nos debates acerca das Relações Públicas.

Participei do Encontro Regional dos Estudantes de Relações Públicas. Não posso dizer muita coisa sobre os grupos de discussão, pois não participei de nenhum. Mas posso falar muito bem da iniciativa, algo louvável, de estudantes para estudantes.

Me chamou a atenção uma frase de Viviane Nebó, do instituto Pólis - www.polis.org.br - não me lembro bem em qual circunstância, mas a frase foi algo parecido com "não vim aqui pra saber da história de sucesso de algum profissional, vim aqui falar de Relações Públicas".

Achei genial.

A maioria dos eventos que temos acerca da profissão não passam de benchmarking para a galera. Tá, é necessário trocar figurinhas e tudo mais, porém as coisas estão cada vez mais "mercado, mercado, mercado" e esquecemos de nos aprofundar nas mudanças da profissão.

Ninguém se pergunta a razão de tal case de tal agência ter funcionado. Estamos mais preocupados em saber como isso vai afetar o mercado, ou pior, em como podemos copiar esse sucesso para o nosso cotidiano. Não sei vocês, mas acho isso sofrível.

Então, muito se fala - e esse blog está mais para três falastrões do que para agitadores inquietos das Relações Públicas - e pouco se vê. Vocês devem estar se perguntando "ver o quê?". Eu diria extensão, caros colegas.

Se o tripé unespiano preza pesquisa, comunidade e extensão, o curso de RP da UNESP de Bauru tem deixado a desejar no último quesito. Porém, o buraco é um bocado mais embaixo. Qual curso de RP tem se importado com a extensão em larga escala? Eu não sei de muitos, aliás, eu não sei de muitos cursos de RP além dos já famigerados espalhados pelo eixo USP-UNESP-Metodista.

Onde está a produção da Cásper? Onde está a produção da UEL? Onde está a produção do curso de RP?

Não digo sobre o academicismo da coisa, mas sim da forma como as faculdades aliam a teoria e a prática da coisa. A crise de identidade do RP começa já na faculdade, onde estamos mais preocupados em conseguir um estágio de "renome" do que em pensar as bases do curso ou trocar idéias com os outros estudantes de RP.

Alguns irão reclamar da falta de apoio da universidade e coisas recorrentes como tal. Eu reclamo da falta de iniciativa dos estudantes para discutir a profissão. RP, como conhecemos curso, exite desde 1968 e, nesse tempo todo, o primeiro encontro de estudantes foi realizado só em 2007?

Foi.

Dizem que temos problemas de foco na hora de dizer o quê um RP faz. Para mim temos problema de identificação com a profissão e isso vêm de muitos fatores, mas, principalmente de dois já citados: a falta de preocupação com projetos de extensão acadêmica e a falta de intercâmbio entre estudantes do curso.

Se, ao invés de nos preocuparmos em dizer o quê faz, ou não, um RP com textos e camisetas, houvesse uma preocupação dos alunos em internalizar a dialética da profissão, estaríamos pautando o mercado e não o contrário, como acontece há tempos e como vai acontecer quando eu me formar e quando os netos de vocês se formarem - eu garanto que nenhum de vocês vai querer o filho RP, certo?

Aliás, porquê ninguém diz que quer ser RP quando crescer?

Acho que o dia está cinza demais, acho que a minha vida profissional vai pelo mesmo caminho e acho que vocês, leitores, poderiam jogar uma luz nessa nossa loucura semanal, do contrário haverá sempre mais calor do que luz, como nas festinhas que estamos malfadados à organizar.

Vamos fazer um pouco mais. Que venham mais ERERP's, que venham outros casos de conteste, que os estudantes se unam e não façam chacota dos seus amigos "jornaleros e agitadores de greve", mas procurem entender a raíz do problema.

Imagem é muita coisa, mas não é tudo. O quê uma organização/instituição/casa-da-sopa/o-escambau é, é o quê importa e é aí que entramos, na construção da identidade, na construção daquilo que irá virar imagem.

Precisamos construir mais e não só escrever mais.

Vai ver é pessimismo, vai ver sou eu, vai ver não é você, vai ver você tem que ler o post inteiro de novo... Vai ver é só cinza - em todos os sentidos.

8 comentários:

Andressa Borzilo disse...

parabéns pelo texto!
digno de um RP/Jornalista!
hehehe!

bjos

Manga com Leite disse...

"Precisamos construir mais e não só escrever mais".

Eu diria que precisamos pensar mais.

Os estudantes se preocupam com a reprodução da lógica da profissão (uma lógica meio sem lógica, confesso) e não em questionar toda essa bagunça.

Certa vez fui em um "Congresso UNIVERSITÁRIO de RP". Sabe qtas vezes a palavra universidade foi citada? Nenhuma. Isso sim é um absurdo! E quem se preocupa? (...)

Ou alguém percebe que brigar pelo reconhecimento da profissão significa, em um primeiro momento, reconhecê-la como em constante construção (e isso inclui os tais projetos de extensão universitária que você comentou) ou fudeu, fica na tudo na mesma. Os mesmos profissionais, os mesmos discursos, os mesmos cases, os mesmos livros, os mesmos eventos chatos...os mesmos estudantes...

Bisnaga neles!

Thais Marin

COMfabulando RP disse...

E o mais engraçado de tudo é que até mesmo as discussões sobre teoria-prática, extensão e "importância" da produção adacêmica estão ficando em meras palavras. Foi citado no texto sobre a necessidade de intercâmio, de como fazer a profissão acontecer, em meio a tantos cases e estórias de sucesso. E idéias simples, como um Núcleo de RP, estão surgindo... e não vi ninguém por lá... até agora. Até mesmo o que devemos discutir fica e acaba em papéis, livros, cadernos... e blogs! E muitos falam, e falam... e continuam no mesmo lugar. Falta ação, todo mundo sabe. Mas e aí?

Ariane

COMfabulando RP disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
COMfabulando RP disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
COMfabulando RP disse...

Como a discussão é sobre esse post, vou continuar por aqui. Assim, outras pessoas podem opinar e conhecer o ponto inicial do negócio, tudo bem?
Aliás, Bisnaga, você falou tudo exatamente como estava pensando que me responderia! Inclusive, sobre a falta de iniciativa dos alunos... e, por que não, questionar o Núcleo? Passaram nas salas, falaram rapidamente, e também não entendi a proposta... e fui questioná-los, mesmo tendo participado do grupo de discussão. E é outra iniciativa louvável, como o próprio ERERP, que muitos dizem a mesma coisa que você: que faltou divulgação, clareza sobre os objetivos, etc. Mas a AÇÃO de formar um Núcleo já é algo. Então, será que a atitude de ir questionar já não é o começo do entendimento e participação? A maioria dos alunos parece esperar as informações prontas, como somos acostumados a ter nesse mundo confuso, inclusive de Relações Públicas. E, retomando, o papo sobre teoria e prática parece ficar sempre no papel. Ou, senão, como disse a Thais, se fala de forma superficial, sem citar até mesmo a universidade como fonte essencial de embasamento... e construção. Se as coisas estão ficando nebulosas, é bom mudarmos o caminho. É sempre melhor deixar de pensar no problema, para pensar na solução. Novamente, Thais, acredito que o negócio é mesmo pensar...

Xenya Bucchioni disse...

Oi pessoal..eu faço jornal na unesp tbm e quando li o texto fiquei pensando em como, de fato , a comunicação não rola na faculdade. Muito do que é dito no blog nós vivenciamos em jornal tbm. Apesar de termos coisas concretas, como Contexto, Livrevista ou telejornal, nós estamos sempre reproduzindo o mercado. A Universidade deveria ser um lugar de criação, de experimentação, do novo. Deveríamos ser estimulados pelos nossos próprios professores a fazer e tentar algo diferente, mas não! copiamos a Folha de S.Paulo, o jornal da Globo e tudo mais de "sucesso" que o mercado oferece. Aí migramos para os prjetos de extensão, na tentativa de fazer algo diferente. É aí que surgem nossos jornais comunitários (disciplina, aliás, que foi extinta de nossa grade!!). O problema é que pagamos eles quase sempre do nosso bolso, isso porque mesmo se ganhássemos uma bolsa de 200 reais não seria o suficiente para rodar o jornal. E aí falta ação sim! falta barulho..porque a coisa anda tão ruim que exigimos professores, ru e moradia (o mínimo que precisamos para sobreviver!) e a extensão vem por último diante de prioridades mais urgentes.
A culpa é nossa e dos professores tbm..pq todos nos fechamos na "bolha unesp" e esquecemos que tem um mundo aí fora e que podemos colaborar com nossa profissão, podemos experimentar a prática e testar novas coisas. Essa "angústia" (por assim dizer) envolve jornal e rádio tbm. Talvez fosse a hora de discutirmos o que queremos dessa faculdade de comunicação, o que podemos mudar, exigir, tentar? Talvez fosse a hora de nos conhecermos, de saber o que há de comum na realidade de RP, jornal e rádio? 4 anos que estamos aqui e pouco sabemos uns dos outros e MUITAS semelhanças temos!Sozinhos é muito dificl mudar as coisas, juntos quem sabe?!

Arlindo Rebechi Jr. disse...

Tal como os textos anteriores, o grupo tem estabelecido um texto de tonalidades bem ácidas, sobretudo este pseudônimo, porém com muitas verdades(e reflexões). Um bom estilo.